domingo, 14 de setembro de 2008

SEXO DOS ANJOS


SEXO DOS ANJOS

Sobre as cabeças dos anjos
perdidas tiaras hão de brilhar
na noite
lúcida
e lúdicos jogos
serão jogados nas varandas
varando a madrugada.

Nas janelas que passam
incólumes
e nas pessoas que ficam
e fiam fios infindáveis
urdindo tramas
e tramando urtigas
antigas formas hão de se esvair,
por entre os dedos,
por entre os dados,
dardos sutis e envenenados
lançados ao longe,
a perfurar têmporas frouxas
de homens tolos,
de mulheres lúbricas
que no calar da noite
se entregam aos desleixos
e aos jogos soturnos
noturnos seixos
do sexo engaiolado.

Não como os anjos fazem.
Não como os anjos
que gozam o gozo puro,
o gozo etéreo,
sem estertores
sem gritos estridentes
entre dentes cerrados.
Não.
O gozo fluídico e mágico destes anjos
não retine na noite feito copos,
feito corpos
de humanos entrelaçados.

Não se exibem nas janelas
nem se entregam às orgias.
Fiam fios e urdem tramas
sem dramas em camas desfeitas.
Enfeitam os cabelos
com tiaras,
e brilham nos seus olhos
diamantes cristalinos,
com o brilho de mil sóis
reluzindo, rouxinóis
aveludados nas gargantas,
vocais acetinados,
seda pura.


Sede puros
como os anjos
são.